sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Mó viagem, mas essa história não é minha.

Eu não me lembro o ano, mas lembro do país e de todo o resto. As perguntas permanecem, pelo encanto e mistério do encontro. Ela era uma velhinha, com um rosto enrugadinho, cabelo branquinho, tipo vovó. De avental. Feliz, essa senhora morava na Itália. Viajando de carro, depois de quilômetros e quilômetros de nada de um lado e nada do outro da estrada, havia ali apenas uma casa, um oásis de amor com imagem familiar do fantástico mundo dos mistérios. " Dona Benta saiu dos livros de Monteiro Lobato lá no Brasil, e mora agora numa cidade fantasma aqui na Itália?" - Pensei. E o mais estranho: ela era feliz, morando sozinha e com o " Grazie a Dio". Gostava de receber apenas seus clientes visitantes. "Mas a senhora aqui sozinha? Não e um mercado, um comércio aqui..." Eu no inglês, ela no italiano e a gente se entendeu completamente. Encontros misteriosos, traduzidos pela vontade genuína de troca. Trocamos. Comprei um docinho lá de alguma coisa, que não me lembro, e ela me levou até seu quintal nos fundos da casa e me mostrou sua horta. Pepinos, legumes, algumas frutas de árvores baixas. Tudo de um tamanho exato do que pode existir no meio do caminho. Ela sorria e eu me despedi com o fruto desse trabalho solitário e íntimo com a natureza. Simplicidade e vida Achei uma pessoa no hiato da viagem.Uma nona que vive sozinha com sua horta e vende o fruto do seu trabalho a quem passa pelo caminho, onde não tem nada. E as pessoas ainda em perguntam, por que eu amo viajar? Porque a vida sempre me surpreende. Sou a louca do snap mesmo.

História contada por Binha. Registrei.

Mó viagem, mas essa história não é minha.

Eu não me lembro o ano, mas lembro do país e de todo o resto. As perguntas permanecem, pelo encanto e mistério do encontro. Ela era uma velhinha, com um rosto enrugadinho, cabelo branquinho, tipo vovó. De avental. Feliz, essa senhora morava na Itália. Viajando de carro, depois de quilômetros e quilômetros de nada de um lado e nada do outro da estrada, havia ali apenas uma casa, um oásis de amor com imagem familiar do fantástico mundo dos mistérios. " Dona Benta saiu dos livros de Monteiro Lobato lá no Brasil, e mora agora numa cidade fantasma aqui na Itália?" - Pensei. E o mais estranho: ela era feliz, morando sozinha e com o " Grazie a Dio". Gostava de receber apenas seus clientes visitantes. "Mas a senhora aqui sozinha? Não e um mercado, um comércio aqui..." Eu no inglês, ela no italiano e a gente se entendeu completamente. Encontros misteriosos, traduzidos pela vontade genuína de troca. Trocamos. Comprei um docinho lá de alguma coisa, que não me lembro, e ela me levou até seu quintal nos fundos da casa e me mostrou sua horta. Pepinos, legumes, algumas frutas de árvores baixas. Tudo de um tamanho exato do que pode existir no meio do caminho. Ela sorria e eu me despedi com o fruto desse trabalho solitário e íntimo com a natureza. Simplicidade e vida Achei uma pessoa no hiato da viagem.Uma nona que vive sozinha com sua horta e vende o fruto do seu trabalho a quem passa pelo caminho, onde não tem nada. E as pessoas ainda em perguntam, por que eu amo viajar? Porque a vida sempre me surpreende. Sou a louca do snap mesmo.

História contada por Binha. Registrei.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

A lição do pertence ou não pertence.

Intimidade é uma merda, só gera falta de respeito e filho. Eu tinha um tio que sempre falava que nos casamentos era necessário uma certa dose de cerimônia no conviver. Nada de fazer número dois de porta aberta, ou enquanto o parceiro escova os dentes." Perde o encanto" dizia ele. Mas isso foi no século passado. Tudo tem mudado tão rápido, tudo tem se desmanchado em deletes, blocks, unfollows e likes, que eu me pergunto, o que é o encanto? Tem como perder algo que nem sei mais como é?

Nas minhas memórias de adolescente, eu idealizava tudo, um casamento perfeito, um emprego dos sonhos, e uma família divertida, amorosa e unida. Ficou na timeline de 1987, pena que meu Facebook não pode mostrar. Essa timeline se encontra paralela a minha vida real, tangente nos meus conhecimentos acadêmicos, perpendicular a outra timeline dos meus sonhos, também paralela a timeline dos meus projetos já programados, com suas devidas metas, modificadas ao longo dos anos.Uma rasurada bem colorida. Não dá pra ter uma timeline, é preciso se conhecer 360°, visto de dentro e acrescentado do de fora. Nada que um computador ainda não tenha conseguido mostrar. Somos complexos em todos os níveis. Quer dizer, sou um gráfico tridimensional energético, colorido e múltiplo. No que me segurar? Algum outro conjunto é capaz de fazer uma interseção nesse meu campo, e ter alguns dos seus elementos que se tornem pertencentes ao meu conjunto e vice versa? Seria esse, o vínculo. Impermanente, mas pertence. 

Apenas pertence. Pode mudar a qualquer hora, a vida é mutante. As relações mudaram. Somos analfabetos matemáticos na lógica das relações. Sim, elas tem lógicas e me parecem exatas. Fale o certo da forma errada que a equação é zero. Nenhum dos dois ganham. Não preste atenção no enunciado da questão, e então erre um sinal, a equação dará errado novamente. São duas orelhas, são dois olhos, se não usa-los na devida proporção que a natureza lhe deu em relação a boca, a equação vai dar errada de novo. Não parece óbvio? Mas porque detestamos tanto essa matemática? Não exercitamos, não praticamos? Desde criança vem a fama maldita de que matemática é difícil. Difícil é escalar o Everest, matemática é mole. Enquanto a gente não abrir os olhos para essas equações relacionais, tem gente ganhando maratona de matemática, ficando rico e se divertindo horrores, porque já sabem como funciona o jogo. Zero vezes zero é zero minha gente, sozinho ninguém vive, sozinho ninguém joga. Tem de ter o número um, pra que o sistema binário se desmembre em todas as coisas. 

Dois é melhor que um, já dizia Salomão, o homem mais sábio que já existiu. Esta no livro de Eclesiastes, na bíblia. E agora? Como juntar os conjuntos tridimensionais múltiplos que somos, e desenvolver a equação? Ou melhor, a relação? Tem espaço? Quantas camadas são visíveis, quais tem senha, quais podem ser invadidas, compartilhadas, roubadas, hackeadas, printadas e editadas? Está tudo no painel de controle? Não. Definitivamente não. As camadas estão vulneráveis, não damos limites, os espaços estão mal distribuídos e tem muito lixo. Muito lixo emocional. Muito medo de intimidade.Calma. Você ainda vai se desesperar. Por mais que você não queira abrir a camada do seu coração para o outro, não saiba fazer isso, ou não possa...existem outros riscos de ter o seu miocárdio afetado. 

Podemos começar a faxina, e jogar os rascunhos fora. Os ideais romantizados, que só nos prendem e nunca nos encorajam a agir. No mundo dos sonhos tudo é perfeito e ninguém tem defeito, por isso gostamos de ficar lá. Nada de conflitos. Eu adoro. O medo me ajuda, ele me convence a idealizar, achar mesmo que em outra timeline qualquer, haverá uma tabela já preparada para equalizar as demais e enfim, ter uma vida ( timeline) relativamente perfeita em qualquer outra dimensão.Eu não estou enlouquecendo. Estamos em 2016, nada será como antes. A faxina é necessária.

Agora de fora para dentro não temos como limpar tudo. Não temos como medir as entradas e saídas numa camada chamada pele. Ela tem sua membrana semi permeável, entra o que interessa. Entra, toca, troca, modifica. Perdemos. Não há cura, há controle. Controle de presença. O quanto estamos presentes para perceber imediatamente o que nos acontece? Quase nunca. Por isso essa bagunça de gráfico né?

Mas afinal, e o vínculo, e a tal "cerimônia"? Existem? Sim. Ainda sim. Me parecem escassos e dão muito mais trabalho que antes construir esse tipo de equação/relação. Todos os combinados condicionados pela nossa cultura estão se desfazendo, e precisam ser refeitos, mas ninguém gosta dessa matemática. Como disse um amigo: " Matemática é negócio que não dá, não é negocio de número, pra que colocar as letrinhas no meio da parada? " Outra: " Matemática é uma coisa muito foda, ela fode com a vida da gente!" 

Dificuldades reais na matemática. Mentiras arraigadas. Medos paralisantes. Mas é apenas matemática. É subjetiva, mas é como a vida. Tem coisas que são obvias, e tem coisas que precisam ser muito exercitadas para serem compreendidas. A repetição do nascer do sol é a lição.Diariamente. O Trabalho é diário, não basta construir, executar, e acertar uma equação, é preciso manter o pertencimento. Manter se em equilibrio em meio a tantos conjuntos. 

Essa lição é pra mim, eu estou aprendendo isso. Escrevo pra mim, compartilho e releio para não esquecer.
Estou apenas vinculando palavras em mais uma timeline.


quarta-feira, 15 de junho de 2016

A lição da ajuda. Desde 2011.

Em um dos momentos mais importantes da minha vida, eu comecei a sentir umas dores na lombar, que se extendiam pela perna direita e me levaram a cinco ortopedistas que variaram de diagnóstico e tratamentos em várias escalas. A primeira destruiu meus sonhos na frieza costumeira de um ortopedista/açougueiro que trabalha em emergências. "Você nunca mais vai correr na sua vida!" Foi a frase que acabou comigo.Eu finalmente conseguia correr 7 km na praia depois de ter conquistado o percurso com caminhadas e trote por meses, não completaria um ano de corrida. A segunda médica foi um pouco mais calorosa, me mandou pra fisioterapia,RPG.Fiz tudo, e junto, me tratei por um ano com acumpultura, osteopatia, remédios, injeção, e sem muita melhora.Na verdade eu só piorava, a dor ainda abalava a minha fé, eu não acreditava na vida, e fiquei em depressão profunda.
Eu já fazia terapia duas vezes na semana tinha dois anos.Ela me indicou um psiquiatra,mas eu não consegui ir nele. Até que um desses amigos anjos que sempre estiveram na nossa vida, geralmente vem da época de criança, que lê a sua alma e mesmo anos sem ter noticias, quando aparecem trazem a luz. Ele me indicou uma especie de terapeuta corporal e disse com muita convicção:" Ela vai mudar a sua vida! " . Eu estava com muita dor, exausta e deprimida pra esboçar alguma reação. Ele retrucou - "Nossa, que desânimo!". Eu apenas  respirei.
Tem dois anos que me trato com ela e sim, ela mudou a minha vida.
De cara ela me mandou pra uma outra médica que me receitou um antidepressivo, florais, homeopatia.
Mais do que tratar a minha dor, eu precisava sair dela, da crise, da consequência final, e buscar a verdadeira causa. Minha alma estava em frangalhos, eu estava sozinha, eu não queria amigos, eu não sabia mais como me relacionar, tudo me machucava, tudo doía.
Nosso encontro era uma vez por semana, e deitada no chão chorando como um feto, falando das minhas dores, ela cuidava da minha respiração e me ouvia. Desobstruindo meus nódulos de energia acumulados durante meus 30 anos, ela me acolheu como mãe. Era uma terapia com afeto.
A primeira grande licão que agora eu aprendia era sobre ajuda.
Foi em posição fetal, chorando e amargurando a vida que ouvi ela dizer:
"Ajuda só se dá quando pedem. Pediram? Você para, veja se você pode, se puder então ajude, senão não, isso é limite!"
Essa é lição mais fundamental do meu tratamento e agora das minhas relações.
Cresci acreditando que ajuda tem que dá e ponto. Jesus e toda sua filosofia me foram impostas pela cultura católica do país, meus pais sempre ajudaram todo mundo, e eu nunca questionei.
Ajudar alguém é bom demais. A gente se sente útil, importante, e o melhor de tudo: amado.
Eu ajudava o mundo inteiro, mas nunca me ajudei. Eu dava ajuda sem ninguém me pedir, e gastava o meu tempo, minha energia, minha consideração, sempre primeiro pros outros que por  mim mesma. E estou falando de pessoas que eu amo, minha mãe, meus familiares e meus amigos. Eu dava minha alegria, minha fé, meu amor, meu dinheiro,minha atenção, meu coração,minha casa, meu carro, minha inteligência,minha força,minha criatividade, meus objetos pessoais. Eu precisava ser amada, querida, útil, cristã, desapegada, generosa, e eu era. Mas eu cobrava. Eu sempre achei que merecia o tanto quanto eu dei. E merecia. Mas ninguém dava. Ninguém nunca dará. Essa é a verdade.Não há como medir, não tem como fazer uma tabela. Sempre será injusto. A não ser que...a pessoa peça ajuda a você, e você realmente possa e queira ajudar. A ajuda se torna um favor livre de cobranças. É um ato consciente e valorizado por quem pediu,pediu porque realmente estava precisando e nunca poderá jogar na cara um "você fez porque quis, eu não pedi, então não venha me cobrar o mesmo!".A ajuda é do tamanho certo. Não há abuso, não há mágoas, e quem dá a ajuda, se sente assim, útil e importante.  Esse é o beabá da troca. O se sentir amado é em outro lugar.
Nunca pensei que minha dor na lombar seria a consequência de carregar o mundo inteiro nas costas sem saber dar limites com medo de não ser amada, mas era.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Palavras, carências e ofensas.

O que você espera ouvir? Quais as palavras usa para  falar? Como? De que forma? Pensa pra responder? Precisa responder? Não importa, esse trio já é triângulo de comportamento na minha opinião. Falar errado, sempre foi comigo, não tenho filtro. Falo na hora errada, de maneira e errada, e coisas que não precisam ser ditas.

 Tenho uma estante de rancor no meu coração, de palavras que ecoam na minha mente, e me fazem sentir como uma criança de quatro anos, ofendida. Bem como a figura de narciso, patas de águias, capaz de ferir, e pele de bebê, a qualquer toque, machuca.Egoísta? Não. Burra das emoções mesmo. Esse defeito veio nesse pacote de DNA, de voz com timbre diferente e potente. Na fúria, meus gritos são de potência equivalente a socar umas cem pessoas no estômago, e as todas derrubarem, mesmo que ali, esteja na minha frente, apenas um outro ser humano, igual a mim. É uma merda.

 Um perda de energia desnecessária. É o assunto recorrente da minha terapia há nove anos. Mais os dez anos que vivi dentro de uma igreja cristã, sendo polida diariamente pelo Espírito Santos. Esse problema já vendo sendo observado há muitos anos. Acho que melhorei. Um pouco. Mas nesse processo, descobri que escrever me ajuda. Então, decidi organizar e nomear meus sentimentos nesse post.

Pela milésima vez eu briguei com minha mãe. A gente só briga com quem gosta, e a gente sofre por quem ama. Ela é a relação de amor mais concreta que eu possuo. Não tenho irmãos paridos por ela, Nosso amor é único, e se depois de trinta e nove anos, eu ainda não aprendi a lidar com ela, não vai ser agora que vou desistir. Sou uma pessoa determinada. 

Só que dessa vez, eu entendi. Eu entendi várias coisas. 
Uma dela é que amor pode falar de várias formas.Quase todas.
Outra coisa foi o poder das palavras. Afinal, onde ele está?Elas não são só palavras?
Outra coisa: As palavras nunca serão só palavras. Nunca. Se palavras pudessem ser só palavras, elas não formariam a linguagem ,uma capacidade humana tão sofisticada, única e fundamental em toda especie terráquea. A linguagem está sofrendo uma alteração visível e brusca com o advento internet, e como será que eu estarei quando tiver a idade da minha mãe? Toda relação não começa com a  empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro? Sem empatia, não há relação efetivamente.

Palavras são flechas venenosas ou banho gelado no calor. Elas se apegam umas as outras num fluir contínuo, cheio de adjetivos e podem provocar sérios espasmos. Na alma. Elas sempre vem carregadas de um tom, esse tom as vezes fala mais que a própria palavra. Esse tom vem de alguma emoção: raiva, ira, carência, saudade, amor, plenitude, E tudo é energia. O tom que sai de uma boca, não necessariamente( quase nunca) chega no mesmo tom nas orelhas dos outros. Cada um, só entende o que quer, ou o que é capaz.



Nesse entremeio boca/ orelha é que tudo acontece. O mundo é uma brincadeira de telefone sem fio. Não importa a distância do que é emitido, e do que é recebido. Lá na ponta já virou outra coisa...e com o corretor ortográfico então...a probabilidade de ser compreendido perfeitamente é nula. Nunca será. Exatamente por isso que temos duas orelhas e uma boca só. Tem de ouvir no mínimo dua vezes pra ver se consegue entender. Jesus perguntou três vezes para Pedro, se ele o amava. Então, tudo que é dito no impulso, nunca deve ser considerado de primeira, senão a gente fica igual criança, ofendida, magoada, chateada e fim. Acabou a relação.

Se ninguém, pedir perdão,  e se ninguém conseguir perdoar, aí acabou. Bola pra frente. Outras relações virão. o tempo vai passar, a raiva vai sumir, o gostar vai ficar. Para se relacionar, é preciso ter coragem. 

Eu e minha mãe nos ofendemos muito. Nenhuma das duas sabe falar. Erramos em muitas coisas, mas a voz dela que mora em mim é um guia de sabedoria, aprendizado, amor, aconselhamento e risos, mais que as ofensas. Não deveria existir ofensa, mas há. A minha parte eu descobri. Carência. Eu sempre crio expectativa de ouvir certas coisas da minha mãe ( isso que é ser burra das emoções), desde pequena. Muitas vezes ela fala, minha mãe é muito inteligente. Quando ela não fala, eu fico frustrada, eu sempre espero, sempre. Então ela fala as bobagens que sempre falou, que eu já sei que não é verdade, mas eu fico ofendida. É sempre tudo bobagem. Ou verdades, que não precisam ser ditas dessa forma, meio na chantagem emocional, na implicância. Carência é uma merda.

No exercício de empatia, me pus no lugar dela. Ninguém pode dar o que não tem. Minha avó era um pouco amarga, muito sarcástica e não muito afetiva. Minha mãe era a mais velha das mulheres de dois casais de filhos. Cuidou da família para minha avó trabalhar, depois que meu avô morreu, e adolescente foi para um  internato para filhas e órfãs de militares. Uma guerreira, uma sobrevivente, que mesmo com tantos motivos para não aprender a amar, me amou do jeito dela, e eu sinto. Sou filha única, foi tudo pra mim, o amor, a culpa e as responsabilidades. Minha mãe, como todas as outras pessoas do universo, erram, querendo acertar. Ela é implicante. Sempre foi, com criança então...e as crianças adoram. Crianças gostam que impliquem com elas, porque assim, elas tem atenção, e tudo pode ser uma brincadeira. E o implicante é a mesma coisa, ele quer chamar atenção. Carência é uma merda.

Surreal, eu e minha mãe, brigamos por excesso de carência, das duas. Ela implica comigo, eu fico ofendida, infantilizada, uma mulher de trinta e nove anos,me transformo na Manuela de cinco anos e grito no agudo, mesmo sendo grave e falo um monte de outras coisas, que só as mães provocam na gente, que até podem ser verdade, mas não precisam ser ditas na gota d'água, na ira, na fúria, ou por mera implicância, vai dar ruim. Uma tem de ceder.

Essa altura da vida, eu já peço desculpas no máximo uma hora depois. Sei que fiz merda. A mestra mãe, também inteligente e partícipe dessa relação, já aprendeu a não responder nada. Supernanny ( Jojo) ficaria orgulhosa da minha mãe. Colocar uma criança no cantinho do pensamento é dar limites. Crianças reagem ofendidas e xingam suas mães e as odeiam por aquilo. Isso vai até a adolescência. No meu caso, até hoje. Mimada. Carente. Dependendo do que a criança fala, tem mãe que não aguenta, chora, mas a Supernanny diz para segurar a onda. Uma mulher, ao se tornar mãe, geralmente é adulta, e não consegue lidar com uma criança berrando e xingando por cinco minutos, enquanto está educando o filho é assustador para mim. As mães cedem. por amor, cedem.

Mas o cantinho tem uma finalização. depois do tempo, a mãe vai lá conversar com a criança. Ela se abaixa, fala em tom manso, na altura da criança e pergunta se a criança sabe o motivo de ter estado ali. A resposta da criança geralmente é: " estou aqui porque lhe desobedeci. Me desculpe". Só isso. Então a mãe abraça e beija o filho, e diz que ele esta desculpado. Só isso também. Assunto encerrado. Nada de ameaçar a criança, ela já foi desculpada, se ela fizer de novo, você avisa. Se você fizer isso ( bater no seu irmão) de novo, vai pro cantinho do pensamento. E repete, assim como nasce o sol, todos os dias, não desista. Essa é a técnica para não termos prisões no futuro. Estamos juntas.
Estava esperando minha mãe vir me tirar do cantinho, mas já sou adulta, e posso escrever esse post, ir até ela e conversar. No fim o amor vence.


Dar limites dói. Só agora sendo professora, posso concluir essas coisas. Sou partícipe da educação. Relação com mãe é inevitável, ou com a sua, ou dos alunos. Não tenho para onde correr. 
Preciso aprender. Estou aprendendo. Já escrevi isso tudo, tenho certeza que vou aprender comigo alguma coisa nesse post, ou já aprendi.

O tempo já passou, e eu já estou com saudades da minha mãe.

Escrevo pra mim, releio para não esquecer.












segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Não sou obrigada?

Realmente eu não sei o que aconteceu para que essa frase se tornasse um jargão da irresponsabilidade total. Como assim eu não sou obrigada a nada? Obrigação é uma forma de disciplina. Nós temos sim, a obrigação de sermos cidadãos. Nós temos sim, que suportar uns aos outros( dar suporte) e nos comprometer com nossos sentimentos. Parece que ninguém mais é obrigado a respeitar os idosos, não é obrigado a pagar seus impostos, não é obrigado a ver um monte de gente preconceituosa governando o país. Se você acha que não é obrigado, você se isenta da sua parte de ser coletivo. Então se mude para uma montanha bem longe e isolada. Você será obrigado a conviver consigo mesmo, e isso será inevitável, e não muito mais fácil, no mínimo. Será que todo esse conceito, de " Não sou obrigada a nada" não é o abandono dos maiores mandamentos espirituais que conhecemos. Amar o Divino ( seja ele qual for), e amar o próximo como a ti mesmo. Você também não é obrigado a se amar? A se cuidar? A ser responsável pelas suas atitudes, escolhas e assumir suas consequências? Se você não é obrigado, quem colherá seus maus frutos plantados, já que você não se sente obrigado a plantar na época certa, a regar, a podar, a arrancar as ervas daninhas, a cuidar do seu próprio jardim, que é o seu convívio com pessoas?? O outro então é obrigado, e você não? Que porra é essa? Você não cuida das regras de segurança da sua empresa, e promove um desastre ambiental onde famílias inteiras ficam desabrigadas, e você não era obrigado a cuidar disso? ERA! ERA SIM!!Se você reclama do governo, mas joga lixo no chão, para garantir o emprego do gari, você está deixando suas obrigações de cidadão a esmo, e não pode reclamar de nada. Não pode! A vida é jogo, em todo jogo existem regras, e se você quer jogar sem cumprir a regras, sem saber perder, sem saber dar a vez, sem saber que sozinho não tem jogo meu amigo, você está ferrado. É uma regra simples de educação: primeiro as obrigações e depois a diversão.  Posso te garantir, que quando você cumpre as suas obrigações consigo mesmo, e perante o que se comprometeu a fazer na vida, como trabalhar, ter uma família, se dedicar ao seu relacionamento, gastar tempo com seu filho, ou apenas ter um serviço social, no fim dessa etapa, você vai ter mais sentido na vida. somos Homo Ludens, somos lúdicos, gostamos do faz de conta, precisamos do jogo, como precisamos pensar para viver. Essa é a vida, e você é obrigado sim, a entrar nesse jogo, senão, sua vida vai ficar sem graça, você fará parte do grupo do não somos obrigados, e o que vai ser desse país? Você não espera que o banco esteja aberto? Que o mercado tenha suas frutas, que seu time ganhe? Você não espera  que as pessoas se comprometam a estarem em seus postos, a chegarem no horário, a treinar intensamente pra grande partida? E você faz o que?

Ninguém de fato é obrigado a ser desrespeitado, a aturar o que não gosta, mas se isentar dos seus comprometimentos, que te fazem ser inseridos a um grupo, isso você não pode. Já pensou se a índia lá da tribo do fim do mundo resolve que não é obrigada a ralar a mandioca pro seu povo se alimentar...mas ela decide isso assim, na hora do almoço..." ah, hoje estou indisposta, e não sou obrigada." Será que não? Em todo grupo, cultura, religião e comunidade,  existem os combinados. e todo mundo espera que cada um faça a sua parte, como assim, na ultima hora você não quer mais? Você pode até não se achar " obrigado" a fazer, mas alguém terá de fazer, e se você não comunicar a tempo, todos se mataram pelo estresse da fome( extremo do exemplo), e então, no mínimo, você tem a obrigação de ter consideração com o grupo que você escolheu estar inserido. Não parece obvio? Mas nossos quinhentos anos de falta de educação nos trouxe ao mundo dos irresponsáveis. Não somos obrigados a mais nada, só ficar nas redes sociais falando que não é obrigado , é isso? Isso não me parece obvio. Parece burrice mesmo. 
Hoje é segunda, o dia da preguiça e aquele dia em que temos vontade de gritar que não é obrigado a nada...mas é mentira. Pare de se enganar, cresça. se torne um ser humano integro. Se permita ser coletivo, se permita ser obrigado a fazer o que precisa ser feito, mesmo que devagar, mesmo que sem vontade. Isso é disciplina, isso é limite, isso é amor. Regue a plantinha do seu coração, da sua disponibilidade, da sua busca por sentido na vida, não por obrigação, mas por amor a si. Que assim, você realmente não será" obrigado a nada", seremos obrigados a amar, simplesmente. Será que é isso? Em pleno 2016 as pessoas adquirem esse pensamento de não ser obrigado a amar? se for isso, que vidinha mais sem graça a sua.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Pobreza vem da alma, e não da favela. No asfalto também tem gente pobre. Seria esse nosso apartheid cultural?

Tenho como referência artística um brasileiro chamado Vik Muniz. Ele é um representante da arte contemporânea porque ele fez o que ninguém faz. A obra de arte dele é realmente cheia de camadas. Em o Lixo Extraordinário, fui nocauteada pelo desprendimento e disponibilidade desse artista tão conceituado trabalhar dentro de um lixão. Fazer da pobreza e escassez uma arte. Ele é minha grande referência de hoje. Fazer arte com seres humanos comuns, pobres e lindos.
Sei o que é ser pobre, porque já fui rica. Tenho essa referência, pois que nasce pobre, não poderia fazer esse tipo de analogia, penso eu. Já tive carro,sempre tive empregada em casa, escola particular, cartão de crédito, motorista e um futuro garantido pela frente. Quem dera. Meu pai despareceu como um pum quando eu tinha 17 anos, e eu  e minha mãe tivemos de nos virar pra viver. Vendi salgados e quindim na cantina do curso pré vestibular. Entreguei quentinhas por quase um ano, e aprendi a andar de ônibus. Meu primeiro emprego era pra ganhar meio salário mínino e limpar o banheiro de uma uma imobiliária duas vezes por dia, onde haviam 8 homens sem nenhuma pontaria. Era xixi no banheiro todo. E eu era só secretária( faxineira). O cheiro era insuportável. Mas eu limpava todo dia, e deixava um brinco. Eu fazia faxina na minha casa. Eu dava banho nos meus cachorros, eu fazia as minhas unhas, eu aprendi a me virar sendo pobre. A gente aprende a viver com pouco. A gente é pobre, mas é limpinho. Tenho uma irmã adotiva que morou em várias favelas. Visitei muitas vezes, entrei em muitos barracos. E mesmo na pobreza,com sete pessoas morando no barraco, tudo era arrumadinho e limpo. Outros barracos não, eram sujos, fedidos e bagunçados. A pobreza estava na alma. A sujeira já poderia ter contaminado essa esperança em ter uma vida digna. Pensava comigo. Nesse meio tempo me converti ao evangelho. Fui evangelizar em morro e ser missionária em locais onde ninguém ia. Crianças que não sabiam quanto calçavam porque nunca ganharam um sapato. Essas crianças e esse pais também não cheiravam bem.Mas abraço e amor são de graça e foda-se o cheiro, Jesus me abraçou quando eu estava na merda também.
Troquei de emprego e fui ser demonstradora de mercado. Lavei muito chão dos banheiros e vestiários femininos. E eu era demonstradora(faxineira de novo).
Demorei pra entender qual era o meu papel na sociedade. Rica, que ficou pobre, que frequentou lugares horríveis, e muito chics, viu a discrepância social que existe, e se revoltou.O evangelho me salvou. Casei já com um emprego legal, mas perdi quando estava com três meses de casada. Tive de me mudar para um barracão. Uma casa sem acabamento, só no reboco. Uma casa bem pobre, sem box no banheiro, sem armários de cozinha,sem piso na cozinha, sem um minimo de conforto. Meu ex marido então se tornou um algoz. Tudo que eu queria do mercado era caro. Meu Toddy Light era caro, e então eu vi que nele havia avareza, um pecado complicado.  E ele controlava até o meu salário de demonstradora, mesmo ganhando mais que ele. E eu era a doméstica,cuidava da casa, das roupas dele, da comida, da faxina, trabalhava fora, estudava a noite, era universitária, e mesmo assim, eu apanhei. A pobreza entra pela porta e o amor sai pela janela, e na porrada geralmente.
Continuei pobre. Voltei com o rabo entre as pernas pra casa da minha mãe. Desempregada,machucada, deprimida e divorciada.
Pobre e sozinha.
Decidi estudar artes e hoje escolhi ser professora.
Acredito na arte como potente ressocializadora.
Fui fazer meu estágio em Paciência. Lugar bem humilde. Lá eu me achei. No meio da pobreza, a rica patricinha se descobriu útil.
Prefiro trabalhos sociais, do que ser atriz da TV. Sinceramente. Não sei o que posso encontrar por aí, mas a pobreza nunca foi um empecilho pra mim, e nunca será. Quero fazer diferença na vida daqueles que aparentemente não merecem ser educados. Quero aprender com eles.Bora faxinar toda essa sujeira da falta de educação.
Mesmo que eles acreditem que não.
Encontro pessoas humildes, e pobres que não querem sair da favela. Não acreditam mais que possam ter acesso a saneamento básico e educação. Se conformaram. E encontro também pessoas da favela, que são preconceituosas com quem não é. Eu não tenho vergonha em dizer que sou pobre. Tenho o que preciso pra viver, não sou rica, sou próspera porque tenho mais do que preciso. Mas tem uma galera que tem orgulho em ser pobre, e esse orgulho é também um pecado, como seria eu, ter orgulho por ser infeliz. " Eu sou a mais infeliz do universo, tudo de ruim só acontece comigo. Tenho muito orgulho disso!" ou  " Eu sou pobre, e não admito ninguém tão pobre quanto eu vir aqui na minha favela, dizer como educar as nossas crianças." "Se você veio do asfalto, nunca vai entender o que se passa na favela." Será? E será que esses lugares já não se separam mais? São os do asfalto que não frequentam a favela, ou a favela, que não quer dar espaço pro pessoal do asfalto? Seria esse nosso Apartheid social inverso?
Em sala de aula, durante meu estágio como professora, presenciei discursos, inacreditáveis. Tem pobre que tem orgulho em ser pobre, e querem permanecer pobre. Tudo bem, acho que é uma escolha. Mas será que todo mundo da favela pensa assim?Acho que não, meu professor de filosofia da faculdade era morador de rua e hoje é doutor em filosofia.
E o que é ser pobre?
Pra mim, ser pobre, é ser escasso no amor. E não se pode dar o que não tem. Nem amor, nem empatia, nem educação. Então ser pobre, é se fechar para as possibilidades de um mundo melhor, com mais oportunidades sem desistir de lutar por uma vida digna. A maioria dos pobres só reclamam. Sabe por quê? Porque foram muito abusados, explorados, enganados. Quem poderia, com toda a figura autoritária de um país dizer a eles, Yes, We can. Sim ,nós podemos. Para que eles possam ver, que nesse país, todo mundo é pobre. Que somos todos explorados e enganados, há dois mil anos, como na época de Jesus, todos pagavam muitos impostos, e não tinham nenhum retorno do estado. A nossa crise não é só moral,econômica,ela é educacional. Nunca investiram em educação nesse país de verdade. O que educa é o exemplo, e nós estamos cheios de maus exemplos na politica, na escola e na vizinhança. A pobreza de espirito é geral.

Eu fui particularmente julgada por uma pessoa, em um caso extremo das circunstâncias, porque ao entrar na casa dela, o gato, que tinha ficado sozinho por dois dias, havia feito aquela bagunça! E o cheiro do xixi do bichano impregnou tudo. Não seria fácil entrar na casa, nem ficar lá. Sou alérgica e o cheiro de xixi, ardia minhas narinas. Dei pra trás, fiquei com medo de vomitar na casa da pessoa, e ela além de arrumar a bagunça do gato, teria de limpar meu vômito. Situação constrangedora. 
Eu me recompus, e resolvi ficar na casa... já tinha dormido 20 dias em BH com a minha mala, no meio dos xixis e cocos dos gatos e cachorros da casa que haviam me acolhido, o que seria um cheiro de gato pra mim? Nada né? E não foi. Passei momentos ótimos na casa da pessoa, e até carinho no gato eu fiz. Mas não foi o suficiente. Fui taxada de fresca, que fiquei com nojo da casa, porque era pessoa humilde, e eu não sei lidar com a pobreza. Perdi a amiga. Pra ela, eu errei, eu tenho um defeito de educação, ela não pode mais ser minha amiga, porque eu sou "rica e patricinha",somos de classes sociais diferentes demais e não posso conviver com ela, porque não sei lidar com pobreza, ou sujeira. Essa pessoa realmente não pode conviver comigo, pois de fato, não me conhece. Valeu enquanto durou nossa relação e aprendizagem mútua. Deus te abençoe viu?  

Será que devo acreditar nisso? Teria agora se encerrado a minha carreira de professora que quer dar aula em Paciência, um lugar humilde e precário, por escolha, para não ter de lidar com filhos de pais de classe média, que sempre vão jogar na minha cara que pagam o meu salário? Não sirvo mesmo para conviver com pobres? Quem pode na verdade julgar isso? E o que é um salário de professor? Um professor brasileiro nunca será rico, ele será pobre, a escolha será: com esperança, ou sem esperança de um futuro melhor para todas as crianças? Vou preparar minha aula, limpar minha sala, cuidar dos meus alunos, sem acreditar que eles podem ser cidadãos dignos? Jamais. Sou pobre, não sou de favela, mas tenho esperança. Pois o que tem orgulhoso da pobreza morrerá nela, e ignorante, talvez uma sorte, talvez uma escolha que fizeram por ela, e ela nem sabe. Mas o humilde da pobreza poderá ser rico de amor, rico de generosidade, rico de perdão, e rico de escolhas. Eu quero essa riqueza da humildade, e acabar com o apartheid inverso. Farei a minha parte. Na riqueza ou na pobreza, estou casada com a educação.