domingo, 6 de julho de 2014

Briga de Familia

Quem defende que familia é de Deus não sabe muito bem o que está dizendo. É nesse ambiente de familia que construimos nossos maiores traumas e afetos profundos. E não podemos esquecer que nas reuniões em família é que acontece o pior momento para bullying, as crianças são massacradas na frente dos seus primos e tios, e todo mundo acha graça. Bullying na escola é diferente, saiu de lá, você vai pra casa, e tem bullying ali também. Mas isso é velado. Ninguém fala, familia é sagrada.
Não me dou muito bem com a minha familia. Tenho crises de angústia em festinhas de crianças. Deve ser porque sou a única divorciada sem filhos. Como olhar pra todos os pais dessas criancas pra tentar socializar sem se sentir a alienada, olhada de cima abaixo, principalmente pelas esposas, porque não sabe cantar uma música de Galinha Pintadinha,ou do XSPB ? Não sei, e não sou obrigada. Sou linda e magra, isso basta. Me basta, e basta pra ser persona no grata no ambiente.
Hoje foi aniversário de um aninho da filha de um primo. Fui levar a minha mãe na tentativa de estar nesse lugar sem problemas. Não consegui. Tive crise de angústia. Quando era criança meus familiares sempre me trataram como uma mimada e hoje me olham como a encalhada. É o mesmo bullying, na mesma família. Mas agora sou adulta, não preciso ficar ali. Já posso me defender.
Todas aquelas lembrancinhas da Minnie, e todos aqueles enfeites rosa de bolinhas, foi me deixando sem ar. Uma casa de festas maravilhosa,  com comida boa, uma mega estrutura,  muitos garçons e muitas crianças. Depois de uns 10 anos que não via minha tia, irmã da minha mãe,  a única tia de verdade,  e a única irmã que ela tem, foi com ela que tive a minha crise de choro na porta da casa de festas, querendo ir embora. Já tinha feito minha mãe chorar, minha angústia estava do tamanho daquela casa de festas. Eu tentei, eu juro que eu tentei. Mas não deu. Não deu pra posar de prima adulta e resolvida. Confessei pra minha tia todas as minhas reclamações,  e ela ali, no afeto mais puro e verdadeiro, olhando dentro dos meus olhos, me disse que também não gostaria de estar ali, que entendia o tamanho da minha dificuldade,  mas ela estava por causa da minha mãe,  dos filhos dela e dos netos. Ela estava tentando tanto quanto eu. Foi nesse momento me senti afagada em família. O mais verdadeiro olhar familiar segurava nas minhas mãos e me ouvia. Entendi tudo. Quando eu era criança,  nossas festas em família sempre terminavam em briga e bebedeira. Não me lembro quem arrumava as brigas, mas essa minha tia estava em todas. Na mesma hora vem a frase que minha mãe tinha acabado de me falar. " Se eu estivesse no seu lugar, ou eu ia embora, ou eu bebia. Estou bebendo". A culpa das brigas em família é a bebida. Eu, como geralmente não bebo, resolvi ir embora.  Agora escrevendo entendi quase todas as brigas e festinhas. Entendi minha angústia,  um resíduo de comportamento padrão que até então eu não sabia que tinha. Agora posso saber lidar melhor. Minhas memórias,  me afetaram, me tiraram de lá. Mas não sai de casa em vão.
Achei que tinha perdido meu domingo, mas no fundo eu ganhei.
Eu tentei, eu insisti porque na porta quando começou o problema de estacionamento,  eu já queria deixar minha mãe e busca-lá no final. Mas respirei e pedi ajuda a Deus, e consegui parar meu carro e ir pra festinha.
Lá eu ouvi meu primo adulto, bem sucedido,  com um sorrisão tão escancarado e satisfeito,  contando de sua recente caminhada e conquista no trabalho, uma filha linda e fofa, uma festa perfeita e a frase emblemática: " Não pode desistir! Insiste! "
Vi meu outro primo tirar da mochila um prato de criança pra ir se servir no buffet o almoço do filho menor dos três,  que eu nenhum conhecia.Conheci hoje!
Meus primos são homens maravilhosos, e bons pais,  tenho orgulho deles. Os demais primos ainda não haviam chegado. Os brindes da Minnie já estavam começando a falar comigo, eu não estava bem, o ar não chegava no fim do pulmão. Precisava sair dali. Briguei com minha mãe, e como um furacão,  fui embora.
Lá na portaria eu tive o contato mais verdadeiro e esclarecedor da minha história familiar. Minha tia me acolheu, me entendeu, me falou verdades, me olhou nos olhos, me abraçou,  eu me reconheci naquele olhar, eu me vi nela e ela me deixou ir. 
Agora fico me perguntando,  que toda família é realmente assim? Tem suas brigas, suas ralhas, suas diferenças,  mas uma cumplicidade que acolhe. Desde que minha mãe ficou doente,  eu tive de rever minha postura diante da minha família. Apesar de ser fechada pra eles, quando precisei fui sim, acolhida. Expor minhas fraquezas pra eles é um processo libertador. Dói muito. Mas a vida dói. Eu não tenho pra onde correr.
Só fui embora porque minha mãe estaria com a família, minha tia cuidaria dela, e eu poderia sair dessa cobrança social que me persegue é difícil lidar. Não ter filhos. Ainda tenho tempo pra fazer essa escolha, mas o mundo grita que não. Que talvez eu nem tenha essa escolha, que optando por não tê- los, serei excluída do "clube  das famílias felizes e mulheres realizadas" e condenada a ser infeliz e insatisfeita, e olhada de lado pro resto da minha vida. Condenada ao limbo das solteironas que acordam a hora que querem, que podem ir a baladas, festas, viajar, estudar, investir na carreira, sair com o homem que eu quiser, ou não.  Solteironas tem escolhas que mães não tem. Cada uma na sua. Mas como eu sou sempre a primeira a ser olhada de cima abaixo por essas mulheres, isso me afeta. Eu também as olho de cima pra baixo, primeiro porque sou alta, depois porque eu me cuido e geralmente os pescoços dos maridos vem em minha direção e aí que fode a porra toda. Não quero pegar marido de ninguém. Quero paz. Cuidem de seus lindos filhos que vou cuidar da minha vida.
Sociedade patriarcal, mulheres machistas. Somos desunidas desde sempre, uma loucura isso. Por isso me esforço pra ter um relacionamento saudável com minha mãe,  e depois de hoje, também com minha tia. Talvez as únicas mulheres que me importam relacionar no profundo e agora. Obrigada Tia Lúcia.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

A parte que me cabe.

Qual é a parte que me cabe em um jogo de relações?
Me dou por inteira, pela metade, espero pedir, ofereço a mão?
Monto uma boa estratégia,  ou me deixo seguir pela emoção ?
E os meus sentimentos?  Cabem nas ações? Meu sentimentos cabem no esperar?
Tem regras.
Se não tiver regras, não é jogo.
Me sinto uma péssima amiga. Não me sinto capaz de manter encontros com uma turma de gente. Não saio de casa e não vejo pessoas que amo encontrar. Por isso sou péssima amiga, repito, não sei qual a parte que me cabe em um jogo de relações.
Ser amigo não é ser livre de obrigações?  Nem sempre. Amigos devem ser leais. Porém,  só os amigos traem.
Entendo a importância dos encontros.  Dois corpos humanos juntos e desconhecidos em um elevador, já promove um afeto. Ambos afetados pelo desconhecido. Incomodados,  percebidos. Não são amigos, não há assunto, há só suspiro.
Dois corpos humanos amigos promovem muito mais afetos. São muito mais afetados uns pelos outros. Dois corpos humanos amigos de verdade,  aqueles poucos. Que permitem se afetar no profundo,  pela alegria, contato visual, dor, paixão e vida do outro. Inevitável o afeto, afetar e  ser afetado, se emocionar, e ser emocionado, consolar e ser consolado, ajudar e ser ajudado. No fim, achar tudo engraçado.
Meus encontros são muito intensos. Acho que por isso evito. Não sei a parte que me cabe, lá vou eu inteira em cada encontro: pessoal, impessoal, canino, ou espiritual, em todas eu me encontro. Encontro  me com o outro. Me vejo, me revejo. Sou tão legal, muito mais legal do que comigo. Me observo, me afeto, sou afetada, me estresso. Me meço, me comparo, me empresto. Dali vou adiante, no fim do dia, não me lembro mais quem sou. Me perdi por ai. Carimbei me no outro ali.
Mas então qual é o tamanho?  Não posso me isolar, e me perco ao me encontrar! O melhor é dosar. Menos afetos, menos dores, menos desamores.
Devagar. Não sei qual é a minha parte, mas entendo que preciso ir devagar. Nas relações,  como no jogo, joga-se junto, mas é um lance de cada vez.
Devagar para não desistir,  porque sozinho não há jogo. É melhor perder, errar, ter afeto, afetar, chorar, esperar, esperar, esperar, perdoar, arriscar , mas continuar no jogo, do que ficar sozinho. Não há espetáculo quando há apenas um homem e um banquinho.
É preciso platéia,  é preciso torcida, é preciso adversário,  é preciso regras e juiz, senão,  não há jogo, não há relações. Nada de afeto.
O mundo inteiro anda carente porque não se permitem aos afetos. Se secam, se fecham, se machucam, se espetam. Falta compaixão,  falta paciência,  falta generosidade.
É essa a parte que me cabe, ser generosa. Comigo, com o outro, com os afetos, com os limites, com as escolhas, com os erros. Achar tudo engraçado e ficar no jogo. Perder e ganhar nunca importou, o importante é aprender a jogar.
Existem encontros que são jogos únicos. Tem gente que te ensina a jogar com a generosidade,  tem gente que não sabe jogar. Isso é importante,  saber com quem se joga, se vale a pena algum lance. Porque se você quer jogar vôlei,  a pessoa basquete,  cada um tem a sua  bola, sua quadra, suas regras,.alguém tem de ceder, ou joga sozinho e a parede. Que não será a mesma coisa. Nunca. Larga uma bola e uma vontade para que haja algum jogo, senão,  não há relação, não há  o encontro. Mesmo que você não seja tão bom naquele jogo, tem medo de perder, aproveita para aprender. Ceder é aprender, é dar a vez pro outro, é se deixar afetar por ele, é esperar o lance. É estar vivo dentro do jogo! É a vida né?  RING.
Aos meus bons amigos, obrigada pelos encontros, me esforço em mantê- los,  e vou melhorar, porque preciso e quero ser afetada por pessoas que eu amo, e me sinto aceita, abraçada,  recebida, recebo afeto, que tanto preciso. Amo vocês.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

A lição da Espera.

Uma coisa que o ser humano precisa aprender desde que sai do útero materno, onde ele era simbiotico, perfeito e um só com a mãe, quentinho, escurinho, com comidinha o tempo todo...é esperar. A partir do momento que rompeu aquelas bacias, colocou o cabeção pra fora, queimou no oxigênio que entra pelo nariz e inaugura o pulmão de uma só vez chorou e...agora vai ter de esperar. Esperar, acho que depois de amar, é o que aprendemos desde sempre nessa vida. Se não aprendemos ainda, então estamos penando. Tudo tem hora certa. Há tempo pra todas as coisas já dizia Salomão.
Lá no versiculo bíblico são 24 tempos. Tudo organizado, mas quem consegue? Esperar de boa?
Difícil.Muito difícil. Fico inquieta ao lado o microondas que já é um avanço tecnológico do século XX,  que adianta meu tempo, olha que horror!

O que mais tenho visto é a dificuldade de esperar por alguém. Está impregnado no consciente das pessoas que vai chegar uma pessoa salvadora e ela mudará tudo na sua vida. Isso acontece? Acontece. O  príncipe ou a princesa existem sim, mas enquanto, eles não chegam, o que eu faço? No mínimo se tornar o par correspondente.
A sindrome da Cinderela depressiva está na maioria das mulheres. Elas carentes de abraço e atenção, vão pra cama até sem muita vontade, mas faz pelo contato humano. Pelo carinho, uma trepadinha. Umas mais descoladas e mais novinhas levam numa boa até.  Criam expectativa no outro dia, mas passa rápido, quase uma raridade, a grande massa idealiza. E o pior que eu descobri.  Homem também idealiza. Nenhum dos dois estão na verdade a fim de conhecer o outro, querem tomar posse da pessoa, com certidão de casamento com se pudesse usá -la como nota fiscal, em busca daquela sensação lá de cima,  a simbiose do amor, sem gastar tempo e estar com o outro só pela companhia, pela diversão.  Homens e mulheres se seduzem rindo... pelo carinho. Isso se conquista, se adquire em um jogo de ajuste trabalhoso. Ninguém quer ser expert nesse jogo, todo mundo espera a porra do maldito príncipe idealizado pronto, recortado da revista, scaneado e feito tamanho real  pela impressora 3D. Tudo errado.
Estar com alguém, é estar você com alguém,  nunca alguém em você,  ou você em alguém. Porque uma das Cinderelas depressivas que conheço me deu uma resposta até  bem sagaz, mas um pouco infantil. "Ah, eu sou um ser humano melhor quando estou com alguém ...!" Ah..poético...se não for quase um jogo de batatas quentes. E o sujeito joga de longe aquela batata quente de ter obrigação de fazer o outro feliz, pra que ele seja um ser humano melhor...como se ele não tivesse a obrigacao de sê-lo sozinho primeiro,  e o que chega só então acrescenta.  Senão essa merda vai desandar. Desandou. E rápido assim.Preciso de você para ser melhor ...mentira! Tudo a maldita carência, joguinhos de chantagem emocional. Isso tudo me irrita ao ponto de escrever um post.
Estar com alguém é um eterno  compartilhar de gentilezas, pois todo mundo é pra ser livre, mas resolve ficar ao seu lado pelo motivo mais louco e banal dessa vida. Acho que é muito além da sua limitada estatística boçal e insegura que guerreia na sua cabeça. Se ele ou ela chegarem, podem resolver ficar por um simples sorriso, um cheiro, um jeito, uma química invisível que compõe 70% de todo esse encontro. O resto é trabalho em manter. Muito trabalho, muita escolha, muito pouco sim, pra muito não.  Mas não é um mundo controlado, e sim compartilhado sempre que possivel, a base de gentileza.
Aos príncipes desiludidos e cinderelas depressivas muita calma, tem de esperar,por isso prestem atenção : Tudo mudou já tem um tempo, acho que só vocês que não querem ver.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

A lição do Trabalho.

A vida é trabalho. Essa era a frase que a minha terapeuta falava quase em todas as minhas sessões. Eu com muita dificuldade em aceitar a vida , meus limites, minhas perdas e minhas dores, tudo sempre pesado. Quem sente dor, todos os dias por um ano sem parar, fica mesmo sem leveza em ver a vida. E essa já não era a primeira dor da vida. As anteriores eram na alma, nas decepções, nas relações, essa era na carne. Lá no profundo, literalmente na minha raiz. Uma raiz doente geralmente condena a árvore. Ela não cresce, não se alimenta, não dá frutos. E como trabalha? Trabalha sim. O trabalho é cuidar da raiz. Foi o que fiz por 3 anos e meio. Por 6 meses duas vezes por semana, por 3 anos, apenas uma. Nunca faltei. A dor me paralisava, eu tinha preguiça,  mas ia. Quando eu chegava lá,  
Confessava a minha preguiça.  Ela me dizia: preguiça é medo. Medo? Sim. Demorei quase os três anos para entender, que quando você aceita o fluxo da vida, não existe preguiça,  quando se vê,  já fez, já foi, já realizou. Você já viu uma larajeira fazer força para colocar uma laranja? Preguiça é medo. Essa frase ainda me perturba.

Não sabia que era tão medrosa.Adoro uma preguiça. 

Na verdade, eu ainda não tinha entendido a primeira frase do post. 

 A vida é trabalho.

Dá trabalho se relacionar com mãe, pai, irmão,  filho, amigo, chefe, colegas de trabalho, vizinhos, sindico, porteiro, professor, aluno, familiares no geral ( esses para mim ainda são um desafio) seja qualquer ser humano que se encontre pela frente. Dá trabalho ouvir as pessoas, abrir mão de certezas, tolerar alguém. 

Dá trabalho cuidar de si, ir ao médico,  ao dentista, ao mercado, fazer sua comida, fazer atividade física, lavar a cabeça ( muito cabelo, muito trabalho), cortar unhas, arrumar sua casa, sua cama, suas gavetas, a geladeira, limpar as coisas,dá trabalho desapegar, não acumular tralhas.

Agora o que dá mais trabalho mesmo é se conhecer. 
Dá trabalho se descobrir, reconhecer que tem um monte de defeito, tem um monte de comportamento padrão de registro errado, aceitar isso, e procurar o caminho pra mudança. Desfazer maus hábitos dá muito trabalho. É preciso estar presente em si, consciente para fazer diferente o que sempre se fez automaticamente.

Dá trabalho amar. 
Dá trabalho ceder.
Dá trabalho escolher.
Dá trabalho ganhar.
Dá trabalho perder.
Dá trabalho pensar.
Dá trabalho perdoar.
Dá trabalho educar.
Dá trabalho acreditar.
Dá trabalho se aceitar.
Dá trabalho se perdoar.

Até fazer sexo dá trabalho. Quem não sai ofegante de uma relação sexual, não sabe o trabalho bom que está perdendo!

A vida é trabalho. Mas quanto eu ganho por isso?
Apenas o oxigênio.Para conseguir dinheiro, tem que arrumar outro trabalho.
Da vida você ganha sorrisos, abraços, amigos, beijos, sabores, cores e flores.

Como se não bastasse a vida ser trabalho, é preciso ter um trabalho. Dá trabalho descobrir qual trabalho me coloca no fluxo da vida e não me dê preguiça,  porque preguiça é medo. 
Escrever dá trabalho, e eu me canso. Mas não tenho preguiça de fazê -lo.Tenho necessidade, então parece que não é trabalho, mas é.

Tem coisas que só entendo quando escrevo.
Tenho medo. Ter medo dá trabalho, esse eu não gosto.Meu medo vem do que escrevo, dá trabalho me ler.Me reconhecer por escrito.

Depois de assimilar todos esses argumentos e entender que a vida é trabalho, adotei 3 lemas que carrego comigo.
1- Respeitar escolhas, reconhecer limites.
2- Devagar e sempre.
3- Um dia de cada vez.

Hoje estou aprendendo a trabalhar sem muito esforço,  aceitar o fluxo da vida, já que minha raiz não está mais tão danificada . Não há controle, tudo tem seu tempo. Lógico que meu trabalho maior é cuidar dela, da minha raiz, para que no tempo certo, eu árvore, dê frutos e assim os sonhos da minha vida se tornem mais possíveis. Leve, serena e mansa, a vida nunca será, não se iluda, porque a vida, é trabalho.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Larga o freio Pericão! Conselho para Péricles, ex Exaltasamba, o machista.

Estava ouvindo o rádio, quando escuto essa música de um cantor que gosto muito, que tem uma bela voz, carisma e também muito peso. Pena que ele é machista. As pessoas reclamam do funk carioca, mas ele é a expressão de uma galera que mora em comunidade e geralmente não tem muito acesso a educação de qualidade, e tentam na  batida contagiante, fazer crônicas  engraçadas ou um pornô honesto dentro de seus bailes, e são machistas por ignorância.  Agora um cara que teve  uma carreira de 20 anos no Exaltasamba, ganhou muito dinheiro, viajou bastante, ja deve ter aprendido alguma coisa da vida, e aí quando resolve seguir carreira solo, decide cantar uma música dessa? Olha, senti vergonha, pelo samba brasileiro,  por essa cultura musical brasileira, que ao mesmo tempo me encanta e me assusta.

Segue a letra da musica:

Vou te falar de casa pro trabalho
Do trabalho vou pra casa na moral
Sem zoeira, sem balada, sem marola
Sem mancada, eu tô legal
Faça sol ou faça chuva
O que eu faço pra você
Nunca tá bom
Pago as contas, faço as compras
Tudo bem, eu sei
É minha obrigação
Mas eu tenho
Reclamações a fazer
Mas eu tenho
Que conversar com você
A pia tá cheia de louça
O banheiro parece que é de botequim
A roupa toda amarrotada
E você nem parece que gosta de mim
A casa tá desarrumada
E nem uma vassoura tu passa no chão
Meus dedos estão se colando
De tanta gordura que tem no fogão
Se eu largar o freio
Você não vai me ver mais
Se eu largar o freio
Vai ver do que sou capaz
Se eu largar o freio
Vai dizer que sou ruim
Se eu largar o freio
Vai dar mais valor pra mim
Paracundê, paracundê, paracundê ê ô
Paracundê, paracundê, paracundê ê a

Meu querido Péricles, queria te dizer pra largar o freio sem hesitar e contrate uma babá, empregada ou diarista! Ah, mas vai dar muito trabalho né?  Porque arranjar uma profissional de confiança hoje está bem difícil. Tenho outra sugestão,  volte pra casa da mamãe.

Essa mulher deve estar muito ocupada cuidando dos seus filhos enquanto você trabalha e paga as contas, achando mesmo que só isso é sua obrigação.  Ela também deve estar  exausta, e amargurada, porque na verdade ela também tem todo o potencial de sair para trabalhar, enquanto você espera que ela cuide das suas coisas, como sua mamãezinha fazia.  E  por quê então você não cuida da casa? Não cuida de você,  e das suas roupas?
Milhares de mulheres brasileiras, trabalham fora, cuidam dos filhos, da casa, tem de cuidar delas mesma, porque se engordarem, vocês homens machistas, a trocam por uma até mais feia, mas tem que ser magrinha.

Acho um absurso, porque na música essa mulher ainda é ameaçada," Se largar o freio, vai ver do que sou capaz". Lei Maria da Penha em você!

Meu querido Péricles,  largue esse freio agora e vai ser feliz.
Contrate uma empregada, assine a carteira dela, pague férias e décimo terceiro, que sua casa vai ficar linda e essa mulher, que você espera que seja sua babá vai deixar de ser oprimida e mal tratada em letra de música,  em todas as rádio do Brasil.

Boa sorte.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

6 dicas para lidar com seu amigo depressivo.

 Se aquele seu amigo(a) querido(a) já não é mais o mesmo,não te acompanha pra um chopps, ou uma caminhada na praia, e se diz deprimido, segue algumas dicas valiosas:

1- É hora de você olhar lá no fundo do seu coração,  e ver que tipo de amor e de amigo ele é e representa na sua vida. Se esse amor não for incondicional, como deve ser de uma amizade, é mais aconselhável você se afastar, pois o deprimido não se aguenta dentro dele, está muito triste e cansado, pode causar irritabilidade em você, então é mais fácil se retirar temporariamente, e ser feliz com outros amigos.Pode deixar, que ele já está bem triste, e o mínimo que ele quer, é que você fique feliz, jamais que você se sente ao lado dele para assistir, ou "compartilhar suas tragédias". Ele não tem culpa por estar deprimido, como você não tem culpa por ser míope.

2- Se você então descobriu que ama verdadeiramente esse amigo, não diga que ele está de frescura, porque depressão é um desequilíbrio bioquimico, uma doença.  Assim como um câncer,  ou uma perna quebrada, tem tratamento, e a melhor coisa que você pode dizer a ele é: estou aqui, te amo, isso vai passar.

3- O deprimido não se suporta, e não quer incomodar ninguém, mas na verdade, ele está se sentindo sozinho e com vergonha.  Tenha paciência, empreste seus ouvidos, e deixe ele chorar na sua presença. Não é por email, por whatsap, nem pelo telefone. É ao vivo,  e com direito a um abraço bem apertado, no mínimo.

4 - O deprimido está amargo, além de triste, se você puder levar um docinho, um chocolate, uma comédia em DVD junto da sua presença, será ótimo.  Aproveite para prestar atenção quando ele estiver chorando e conversando contigo, se ele te diz, qual o doce, ou uma comida que o faria feliz no meio daquelas lágrimas.

5 - Não o julgue, se não puder, e não quiser fazer nada por ele, não lhe dê sermões, de que ele é maior que isso,  e que você não admite vê -lo desse jeito. Se ele já foi ao médico,  está se cuidando, ele já sabe disso, e você não estará ajudando. Fique calado presente, se não souber o que dizer. E não o obrigue a sair de casa, ele geralmente não tem forças para tomar banho, lavar a cabeça e comer, muito menos atravessar a cidade de ônibus,  trem, metrô, carro ou moto táxi pra te ver.

6- Se você já perdeu a paciência com este post, volte a dica número 1, e recomece. Amar é não desistir de quem você ama, e é importante na sua vida, mesmo quando ele não está feliz. Calma, isso também vai passar.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Devaneios heréticos sobre Nietzsche.





Por isso, eu lhes afirmo que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: "Jesus seja amaldiçoado"; e ninguém pode dizer: "Jesus é Senhor", a não ser pelo Espírito Santo.


Me atrevo a começar meu texto com um versículo bíblico, já que minha escolha foi de um filósofo crítico  de um sistema vivido por ele mesmo, pois era protestante, que foi  esquartejado em seus escritos: o cristianismo. Antes de Nietzsche chegar pra mim, eu já via Jesus como um filósofo e me considero cristã. Partindo do pensamento da santíssima trindade, o Espirito Santo, que é Deus, habita na Terra, no coração dos homens, e os faz propagar o Verbo ( Jesus), simplesmente falando e se movendo na direção do amor que receberam  de Deus, esse mesmo foi o responsável pelas inspirações de Nietzsche. As próxima linhas podem então ser consideradas mais uma das minhas heresias, escritas no meu livro autobiográfico virtual, o Evangelho Herético, segundo Manuela, que será lançado no tempo certo. Estou aguardando instruções do Espírito Santo quanto a isso.
Nietzsche foi mais um profeta levantado por Deus pra escrever sobre Ele mesmo.  Todo sistema é falho, mas o amor é perfeito. Na antropologia aprendi que toda cultura tem em si, todo o seu contexto e suas regras de acordo com suas crenças e vivências. As falhas, nem sempre são falhas, são os degraus da evolução comportamental dessa célula de humanos, que convivem em qualquer cultura. O conflito é a falha, a falha promove a dúvida a dúvida move o homem, e então tudo a sua volta pode ser mudado. Quando Nietzsche escreve sua autobiografia, ele já padeceu as dores do corpo, viveu seus questionamentos todos baseados pelo sofrimento, tal qual Jesus. Sabe de suas limitações quanto a saúde, se fragiliza e questiona Deus. Toda sua sabedoria é recheada de uma gratidão pela vida, e esperança no ser humano ao fazer o bem. Particularmente eu jurava que ele ia terminar pessimista, mas sua falta de modéstia me dá na verdade, uma aula de auto-estima elevada. Melhor que um livro de auto ajuda. Ele vive as promessas que Jesus morreu pra que nós vivêssemos, a plenitude de vida e conhecimento, verdade, amor, paz, ele termina de alguma forma, grato. Esse caminho sempre será percorrido pelo corpo, onde habita nossa alma e espírito. A dor é a mãe das ciências. Nela o homem está presente em si. Mais que na alegria, a alegria é pra fora, a dor é pra dentro. Ter sofrido de sífilis, ter perdido a chance da casar com mulher da sua vida, dilemas e dores que o transformam num sábio prepotente,  e carismático até. Tive dores constantes na lombar, decorrente de hérnias de disco por um ano, e sei o que pensei sobre Deus, e a vida e a fé. Questionei tudo de novo, e também prefiro terminar otimista.
Acredito sem parar. Não há outro caminho. Acredito no Verbo, na Palavra de Deus, e durante todo o meu curso de Artes Dramáticas, aprendi que a história da arte, na filosofia e no teatro, o espiritual é a questão, e Deus habita praticamente em todas elas. Se negando, ou se buscando. Negando a existência de Deus, e buscando desesperadamente  provar que Ele existe ou não, é  estar falando Dele, e então Ele estava na sala, como está em todo lugar, só por ser questionado a sua existência, pelo fato Dele se dizer ser o Verbo, literalmente. Não me espanta então descobrir que Nietzsche era filólogo, perito no significado das palavras, e também  especializado em latim. Estudou o Verbo em todo seu significado e nos transcreveu. Toda história da arte, as culturas, as religiões, os pensamentos filosóficos  e todos os seus questionamentos vem guardando rituais, liturgias, significados e práticas que compõe o que nós pensamos hoje. E nada do que está lá escrito na bíblia mudou, tudo se repete. Não sei se devo continuar a soltar minhas heresias nesse trabalho, mas gostaria de replicar a passagem que Jesus explica aos seus discípulos o que era o Espirito Santo, e toda a sua sabedoria filosófica defendida por mim nessa escrita.
Essa passagem foi escrita por João, discípulo amado, melhor amigo de Jesus, o mesmo que diz, no inicio do seu evangelho, que Jesus é o Verbo. Segundo ele, essas foram palavras de Jesus.

“Tenho-lhes dito tudo isso para que vocês não venham a tropeçar.
Vocês serão expulsos das sinagogas; de fato, virá o tempo quando quem os matar pensará que está prestando culto a Deus.
Farão essas coisas porque não conheceram nem o Pai, nem a mim.
Estou lhes dizendo isto para que, quando chegar a hora, lembrem-se de que eu os avisei. Não lhes disse isso no princípio, porque eu estava com vocês".
"Agora que vou para aquele que me enviou, nenhum de vocês me pergunta: ‘Para onde vais? ’
Porque falei estas coisas, o coração de vocês encheu-se de tristeza.
Mas eu lhes afirmo que é para o bem de vocês que eu vou. Se eu não for, o Conselheiro não virá para vocês; mas se eu for, eu o enviarei.
Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.
Do pecado, porque os homens não crêem em mim;
da justiça, porque vou para o Pai, e vocês não me verão mais;
e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado.
"Tenho ainda muito que lhes dizer, mas vocês não o podem suportar agora.
Mas quando o Espírito da verdade vier, ele os guiará a toda a verdade. Não falará de si mesmo; falará apenas o que ouvir, e lhes anunciará o que está por vir.
Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês.
Tudo o que pertence ao Pai é meu. Por isso eu disse que o Espírito receberá do que é meu e o tornará conhecido a vocês.
"Mais um pouco e já não me verão; um pouco mais, e me verão de novo".
Alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: "O que ele quer dizer com isso: ‘Mais um pouco e não me verão’; e ‘um pouco mais e me verão de novo’, e ‘Porque vou para o Pai’? "
E perguntavam: "Que quer dizer ‘um pouco mais’? Não entendemos o que ele está dizendo".
Jesus percebeu que desejavam interrogá-lo a respeito disso, pelo que lhes disse: "Vocês estão perguntando uns aos outros o que eu quis dizer quando falei: Mais um pouco e não me verão; um pouco mais e me verão de novo?
Digo-lhes que certamente vocês chorarão e se lamentarão, mas o mundo se alegrará. Vocês se entristecerão, mas a tristeza de vocês se transformará em alegria.

A mulher que está dando à luz sente dores, porque chegou a sua hora; mas, quando o bebê nasce, ela esquece a angústia, por causa da alegria de ter nascido no mundo um menino.
Assim acontece com vocês: agora é hora de tristeza para vocês, mas eu os verei outra vez, e vocês se alegrarão, e ninguém lhes tirará essa alegria.
Naquele dia vocês não me perguntarão mais nada. Eu lhes asseguro que meu Pai lhes dará tudo o que pedirem em meu nome.
Até agora vocês não pediram nada em meu nome. Peçam e receberão, para que a alegria de vocês seja completa.
"Embora eu tenha falado por meio de figuras, vem a hora em que não usarei mais esse tipo de linguagem, mas lhes falarei abertamente a respeito de meu Pai.
Nesse dia, vocês pedirão em meu nome. Não digo que pedirei ao Pai em favor de vocês,
pois o próprio Pai os ama, porquanto vocês me amaram e creram que eu vim de Deus.
Eu vim do Pai e entrei no mundo; agora deixo o mundo e volto para o Pai".
Então os discípulos de Jesus disseram: "Agora estás falando claramente, e não por figuras.
Agora podemos perceber que sabes todas as coisas e nem precisas que te façam perguntas. Por isso cremos que vieste de Deus".
Respondeu Jesus: "Agora vocês crêem? "
Aproxima-se a hora, e já chegou, quando vocês serão espalhados cada um para a sua casa. Vocês me deixarão sozinho. Mas, eu não estou sozinho, pois meu Pai está comigo.
"Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo".
João 16:1-33

Jesus é bem didático, explica mais de uma vez, tem muita paciência. Um mestre. Então eu, pensando em filosofia, arte e educação posso começar a resumir minha composição herética tomando nas mãos algumas ferramentas: todo questionamento é aceito, e faz bem questionar. Estou em sala de aula desde que me entendo por gente, conhecimento é minha compulsão, eu questiono e aprendo. Agora é hora de alternar um pouco as funções, e me deixar conduzir pelo mar que me navega. Tenho alunos de um sistema próprio de aprendizagem e prática teatral, aprendemos juntos sempre. Esse é o jogo. Afinal tudo é jogo. Mas ai, é outro filosófo que me ajuda, e me esclarece que somos todos Homo Ludens , tanto  quanto somos Homo Sapiens, Johan Huizinga. Mas como não foi ele que escolhi, termino meu relato, apesar de Nietzsche, mais cristã que nunca.