terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Maria do Mato

Maria era uma garota do mato. Quase não falava. Usava preto, muitos brincos grandes e óculos de miopia. Só abria a boca mesmo pra perguntar das coisas de Deus, e pra rir das minhas palhaçadas. Demorei muito para ser sua amiga. Ele não trocava de roupa na frente de ninguém,  e também não falava nada sobre sexo ou namoro. Era inteligente, gostava de ler e estudar. Cheguei a ir em uma reunião de escola dela, mas não teve reunião,  acho que não tinha água na escola. Ela , me adimirava, só porque eu era adulta, independente e divertida.

Não demorou muito, aqueles longos cabelos pretos, que pareciam de henê, ficaram loiros. Mentira, abóbora primeiro, depois conseguimos acertar o tom, porque era no meu tanque que eu via quilos de cabelo caírem porque ela cismou de ficar loira do dia pra noite, e a encarregada a fazer o serviço,  era eu! 

Meu marido ficava louco, na verdade, acho que ele tinha ciúmes,  mas eu cuidava tão bem dele, como dela. Tanto que ele se converteu para se casar comigo. Se batizou um dia antes. Casei no civil no dia 26 de março em BH e no religioso no dia primeiro de maio de 2004 no Rio de Janeiro.  Eu amava ele,  um cara trabalhador,  bonito, atencioso,  não bebia, não fumava, não era de farra. Nos divertíamos muito juntos. Ele me amava e cuidava de mim, era tudo o que eu queria.
No dia do meu casamento, Maria estava lá, ficou ao meu lado o tempo todo para me ajudar a me arrumar. Eu saí,  ela deslumbrada, foi tomar banho de banheira no hotel pela primeira vez, se sentiu Julia Roberts em Uma Linda Mulher e quase perdeu meu casamento, atrasou tudo!
Meu marido se converteu, se batizou e agora éramos uma família de Deus. Aos poucos meu marido e Maria começaram a conviver melhor, e Maria enfim morava com a avó. Pertinho da gente.

Ela também cuidava de crianças, quando a conheci, ela trabalhava de babá.  E quando ela me contou que eram dois, e os dois eram especiais. Notei que aquela garota tinha um dom especial com crianças.  Aceitava a vida e a delicadeza com bom gosto. Muito trabalho, sem esforço,  isso é amor. Nunca convivi com um bebê,  ela domina o assunto. Cuidava com esmero, e nem tinha 16 anos.

Maria ficou loira, conheceu o Rio de Janeiro, voltou a estudar e agora começava a me contar seus sonhos, suas histórias e seus medos.
Marta Rocha almocou lá em casa,  e tudo parecia estar se ajeitando. Namoro aceito, estudo, bíblia e família.
Esse capítulo termina com um final feliz. Pelo menos alguns devem ser assim.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Capitulo 2 - O Batismo.

O batismo pra mim foi uma salvação literal. A frase que habitava no meu coração quando conheci Jesus, era de um coração tão amargurado que eu só pensava em " Se eu pudesse, eu morria e nascia de novo." Minha vida estava sem sentido, eu estava deprimida. Fui ao meu batismo sozinha, no dia 9 de dezembro de 1995. Era um sábado cedinho, e depois eu iria trabalhar. Minha mãe não quis, mas eu não me importava, eu acreditava que era minha chance de renascer, havia uma esperança ínfima no meu coração sofrido, agora de acreditar no amor de Jesus. Ele estava lá. Foi lindo e emocionante, o pastor que me via chorando muito me disse que eu seria uma grande obreira.

Novembro de 2003, 8 anos depois ,tinha acabado de conhecer Maria na delegacia, e na reunião de segunda, descobri que ela estava indo a igreja, e que iria se batizar no sábado seguinte. E lá estava eu, sábado cedo em uma Igreja Universal no bairro do Independência,  tipo uma Paciência do Rio de Janeiro de distância.  Uma comunidade simples, muito familiar. Os filhos de Deus são humildes e simples, o evangelho também.  Na lateral da igreja foi montada uma piscina Tony quadrada com água até um pouco mais da metade. Era na garagem da casa. Havia umas 50 pessoas. Umas 10 pessoas se batizando e o restante membros e familiares. Estava um dia lindo, aquele céu azul de Belo Horizonte que nunca mais vi no mundo. Os hinos eram os mesmos da minha época, e eu ouvia a voz de Deus clara no meu coração.  "Ela precisa de você,  foi pra isso que te trouxe pra BH. Você vai discipula- lá,  e lhe ensinar tudo o que você sabe sobre Mim na Minha Palavra." - Pô Jesus, eu vim pra BH pra isso? E só agora eu descubro? E eu vou dar conta de fazer isso?" . No meio da minha DR com Deus, Maria se batizou, desceu as águas e nasceu de novo. Zerada, pronta pra escrever uma nova história,  e era eu que deveria lhe ajudar com a base.

Com fé e obediência,  lá fui eu. Ela brilhava, estava feliz e leve. Ela não se sentia mais sozinha, mesmo sem sua mãe estar lá,  como a minha também não estava no meu batismo. Mas tínhamos o maior amor que poderíamos querer, o de Deus, só o que  bastava. Ele dali em diante ia estar conduzindo nossa amizade e vida de uma maneira milagrosa e inacreditável,  se não estivessemos falando de fé,  seria mesmo inacreditável,  mas o impossível é especialidade do nosso Deus, e tudo foi tão verdade que eu estou escrevendo.
Passamos a nos encontrar semanalmente na minha casa. Ela me ajudava na faxina e no final do expediente,  sentavamos na sala, e ficavamos até tarde esperando meu noivo chegar estudando bíblia, ouvindo louvores e conhecendo a Deus. Ele era sedenta. Precisava saber que amor era aquele que dizia não deixá- la tão orfã. E na mesma dor de ser órfãs,  choramos juntas para sermos amadas por Deus. Oramos no jardim secreto.

E Ele não nos deixou sozinhas.

Pra selar esse renascimento, assim que casei no papel com o irmão dela, entramos em uma loja de tatuagem, e ela tatuou Jesus na perna, igual o meu, mas em Hebraico. Ela era de menor, e eu assinei como tutora sem medo de ser feliz e abusada. A tatoo ficou linda. Na verdade, uma profecia que vai se revelar nos próximos capítulos.  Quase me divorciei, meu marido ficou revoltado, queria colocar emplasto sabiá na tatuagem, mas não tinha mais jeito. Estávamos unidas, para sempre, na dor, na coragem, no amor a Jesus,  que não ia sair nunca mais de nós. Ele perdoou, e a tatuagem ficou.

Deus é Fiel. E como era lindo aquele jardim.

Capitulo 1 - Delegacia


Era final de dia de um sábado. Eu já morava em BH havia mais de um ano, estava noiva. Nesse momento estava em Contagem dentro da Leroy Merlin comprando coisas para casa, e  o telefone do meu noivo toca, na hora seu rosto fica vermelho e ele altera a voz. " Maria fugiu de casa? De novo?".

Maria era irmã caçula dele, tinha quinze anos e desde que a mãe deles havia morrido, ela era ovelha negra da familia. Por providência divina, uma semana antes, ele havia conversado comigo sobre ela. e sua frase final era: Maria não tem jeito!- engoli.

Ele esbravejava no telefone, disse que ia resolver quando chegasse no Independencia e que Maria ia tomar uma surra!- gelei.

Assim conheci  a familia do meu noivo. Chegamos na casa da tia dele, a culpa do sumiço era um tal de Marta Rocha, namorado de Maria. Havia uma carta dela também. Ninguém quis saber da carta. Tios e primos queriam matar Marta Rocha. A busca começou, fomos a casa do rapaz. Ele também não estava, todos falavam tão alto e ameaçavam matar e bater que o bairro inteiro começou a se mobilizar pra achar os dois. Acharam o Marta Rocha. Um rapaz franzino, de corte de cabelo engraçado que parecia um desenho animado, assustado e suando em bicas. Como ele não dizia onde estava a Maria, levaram- no para a delegacia. A porta da delegacia já estava cheia. O bairro inteiro queria ver sangue e morte de gente inocente.

Eu não dava uma palavra, queria entender porque aquela menina causava tantos problemas. Até que na porta da delegacia  se ouviu: " Olha ali a Maria chegando". Era um menina bonita, com um casaco azul do Cruzeiro, calça preta, chinelos, cabelos pretos amarrados em um coque muito grande e olhos de quem passou uma vida chorando. Ela tinha  ido salvar Marta Rocha que ia ser preso por ser de maior e ela de menor. Meu noivo não falava, só gritava. ele queria leva-la embora para a casa da avó de qualquer jeito, e ela chorava dizendo que pra lá não ia nem morta. Quando ele ameaçou pega -la pelos ombros e carrega - la embora eu resolvi me meter. Chamei a em um canto da porta da delegacia e me apresentei. " Sou a noiva do seu irmão". Ela só chorava, não olhou pra mim. Tentei acalma -la e perguntei a ela um coisa apenas. " Maria, você pode não acreditar, mas eu consigo tudo do seu irmão. o que você quer Maria? " - Ela olhou pra mim assustada. Eu falei com muita convicção. Olhos arregalados e chorando muito, vi que ela estava sozinha, e que ninguém a ouvia, ou no mínimo, ninguém queria ouvi-la de fato, qual seria a  sua real vontade. Ela me ouviu, e respondeu:" Eu quero ir pra casa da Suzana, não quero ir pra minha avó." Não perguntei nem quem era Suzana, apenas fui conversar com meu noivo. Pelo poder da sabedoria, e palavras mansas ( milagre de Deus na minha pessoa em situações extremas), consegui acalmar meu noivo e convencê -lo a fazer o que Maria queria, já estava tarde, era melhor todo mundo se acalmar  e teríamos uma conversa na segunda feira. Ele por um milagre de Deus( toda honra e glória ao Senhor) ele topou. Maria que esperava chorando, nem acreditou quando cheguei com a notícia. Pronto! Ela poderia parar de chorar, e me abraçou.Foi pra casa da moça, a delegacia se esvaziou, eu fui pra casa com meu noivo em paz.

Eu, que ia começar uma família, sei que ali, naquele abraço eu ganhei uma irmã pra vida inteira. Irmã, por parte de Pai, porque mesmo na delegacia, Deus nos uniu.