quarta-feira, 18 de junho de 2014

A parte que me cabe.

Qual é a parte que me cabe em um jogo de relações?
Me dou por inteira, pela metade, espero pedir, ofereço a mão?
Monto uma boa estratégia,  ou me deixo seguir pela emoção ?
E os meus sentimentos?  Cabem nas ações? Meu sentimentos cabem no esperar?
Tem regras.
Se não tiver regras, não é jogo.
Me sinto uma péssima amiga. Não me sinto capaz de manter encontros com uma turma de gente. Não saio de casa e não vejo pessoas que amo encontrar. Por isso sou péssima amiga, repito, não sei qual a parte que me cabe em um jogo de relações.
Ser amigo não é ser livre de obrigações?  Nem sempre. Amigos devem ser leais. Porém,  só os amigos traem.
Entendo a importância dos encontros.  Dois corpos humanos juntos e desconhecidos em um elevador, já promove um afeto. Ambos afetados pelo desconhecido. Incomodados,  percebidos. Não são amigos, não há assunto, há só suspiro.
Dois corpos humanos amigos promovem muito mais afetos. São muito mais afetados uns pelos outros. Dois corpos humanos amigos de verdade,  aqueles poucos. Que permitem se afetar no profundo,  pela alegria, contato visual, dor, paixão e vida do outro. Inevitável o afeto, afetar e  ser afetado, se emocionar, e ser emocionado, consolar e ser consolado, ajudar e ser ajudado. No fim, achar tudo engraçado.
Meus encontros são muito intensos. Acho que por isso evito. Não sei a parte que me cabe, lá vou eu inteira em cada encontro: pessoal, impessoal, canino, ou espiritual, em todas eu me encontro. Encontro  me com o outro. Me vejo, me revejo. Sou tão legal, muito mais legal do que comigo. Me observo, me afeto, sou afetada, me estresso. Me meço, me comparo, me empresto. Dali vou adiante, no fim do dia, não me lembro mais quem sou. Me perdi por ai. Carimbei me no outro ali.
Mas então qual é o tamanho?  Não posso me isolar, e me perco ao me encontrar! O melhor é dosar. Menos afetos, menos dores, menos desamores.
Devagar. Não sei qual é a minha parte, mas entendo que preciso ir devagar. Nas relações,  como no jogo, joga-se junto, mas é um lance de cada vez.
Devagar para não desistir,  porque sozinho não há jogo. É melhor perder, errar, ter afeto, afetar, chorar, esperar, esperar, esperar, perdoar, arriscar , mas continuar no jogo, do que ficar sozinho. Não há espetáculo quando há apenas um homem e um banquinho.
É preciso platéia,  é preciso torcida, é preciso adversário,  é preciso regras e juiz, senão,  não há jogo, não há relações. Nada de afeto.
O mundo inteiro anda carente porque não se permitem aos afetos. Se secam, se fecham, se machucam, se espetam. Falta compaixão,  falta paciência,  falta generosidade.
É essa a parte que me cabe, ser generosa. Comigo, com o outro, com os afetos, com os limites, com as escolhas, com os erros. Achar tudo engraçado e ficar no jogo. Perder e ganhar nunca importou, o importante é aprender a jogar.
Existem encontros que são jogos únicos. Tem gente que te ensina a jogar com a generosidade,  tem gente que não sabe jogar. Isso é importante,  saber com quem se joga, se vale a pena algum lance. Porque se você quer jogar vôlei,  a pessoa basquete,  cada um tem a sua  bola, sua quadra, suas regras,.alguém tem de ceder, ou joga sozinho e a parede. Que não será a mesma coisa. Nunca. Larga uma bola e uma vontade para que haja algum jogo, senão,  não há relação, não há  o encontro. Mesmo que você não seja tão bom naquele jogo, tem medo de perder, aproveita para aprender. Ceder é aprender, é dar a vez pro outro, é se deixar afetar por ele, é esperar o lance. É estar vivo dentro do jogo! É a vida né?  RING.
Aos meus bons amigos, obrigada pelos encontros, me esforço em mantê- los,  e vou melhorar, porque preciso e quero ser afetada por pessoas que eu amo, e me sinto aceita, abraçada,  recebida, recebo afeto, que tanto preciso. Amo vocês.