quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Compulsão da Oralidade. Quem não tem?


Mais uma teoria herética observada por mim mesma. Eu sofro de compulsão da oralidade. Na barriga da minha mãe tudo era perfeito.Simbiose, existência plena e suprida. Quando eu saí, mamei no peito por 11 dias, e só. Cresci com dificuldades de comer,tomei remedio pra abrir o apetite na infância e fui uma adolescente gordinha e vegetariana. Era a minha consciência brigando com meu metabolismo. Experimentei cigarro na adolescencia e vomitei. Deve ter sido no mesmo dia que tomei meu primeiro porre alcoólico. Tomei trauma dos dois. Pra que estou falando disso tudo? Observei o quanto me faltou o peito da minha mãe. E me pergunto hoje o quanto ele ainda nos falta? Falo de uma memória corporal onde não há palavra,cheiro ou chave que nos dê acesso de novo a essa sensação.Só sensação de abraço,calor, preenchimento labial,toque da boca e saciedade tudo junto! Alguém lembra desse prazer? Eu não. Ninguém lembra de fato,mas todo mundo reconhece essa sensação do prazer que a boca nos dá. Eu o reconheço quando na minha compulsão de oralidade tento suprir, comendo,bebendo,fumando,beijando e sem vontade de parar. Me deixando levar pelos movimentos mecânicos de comer vendo TV sem ver o que estou comendo e comer mais do realmente o meu organismo necessita pra viver equilibrado. É preciso ter algo na boca. O tempo todo,quando estou ansiosa ou triste. Alegre eu me esqueço mais de querer sugar a vida pra me sentir viva. Triste,a sede de viver é maior, e a compulsão aumenta. A briga com a balança é real. Nivel MMA, lutando com toda coerência e consciência pra derrotar os lixos orgânicos que eu mesma me promovo. Mudança de hábitos e maturidade. Deixei de ser um neném faminto, carente de peito de mãe tem muitos anos. Apesar do cigarro ter o tamanho de um bico de peito, eu sou ex-fumante com muito orgulho e gratidão a Deus porque realmente é um vicio dificil de parar,mas não impossivel quando se entende que tudo ali é ruim e de mentira, mas com subtextos maravilhosos. Eu sei que o cigarro pode ser nosso melhor amigo. Comecei a fumar aos 29 anos,burra. Parei tem quase quatro anos. Queimando dinheiro e saúde porque precisava ter alguma coisa na boca. Compulsão da oralidade de cu é rolaaaaaaaa, não admito mais sofrer com isso! Hoje ainda tenho muitas compulsões, se desfazer de uma memória corporal requer consciência , força de vontade e paciência. Meu processo hoje é bebendo água e escovando os dentes pra parar de comer( usei aparelho fixo duas vezes e percebi que gosto de boca limpa dá preguiça de comer) e fazendo reeducação alimentar. Só assim eu sou capaz de cuidar de mim como adulta e amorosa mãe do meu corpo que devo ser. Porque adulta,livre pra dar beijos sem hora pra voltar pra casa, eu posso ser feliz sem me perder, ou me autodestruir. Buscando o caminho do meio.
Compulsiva sim, burra jamais!

A lição do Trabalho

A vida é trabalho. Essa era a frase que a minha terapeuta falava quase em todas as minhas sessões. Eu com muita dificuldade em aceitar a vida , meus limites, minhas perdas e minhas dores, tudo sempre pesado. Quem sente dor, todos os dias por um ano sem parar, fica mesmo sem leveza em ver a vida. E essa já não era a primeira dor da vida. As anteriores eram na alma, nas decepções, nas relações, essa era na carne. Lá no profundo, literalmente na minha raiz. Uma raiz doente geralmente condena a árvore. Ela não cresce, não se alimenta, não dá frutos. E como trabalha? Trabalha sim. O trabalho é cuidar da raiz. Foi o que fiz por 3 anos e meio. Por 6 meses duas vezes por semana, por 3 anos, apenas uma. Nunca faltei. A dor me paralisava, eu tinha preguiça,  mas ia. Quando eu chegava lá,  
Confessava a minha preguiça.  Ela me dizia: preguiça é medo. Medo? Sim. Demorei quase os três anos para entender, que quando você aceita o fluxo da vida, não existe preguiça,  quando se vê,  já fez, já foi, já realizou. Você já viu uma larajeira fazer força para colocar uma laranja? Preguiça é medo. Essa frase ainda me perturba.

Não sabia que era tão medrosa.Adoro uma preguiça. 

Na verdade, eu ainda não tinha entendido a primeira frase do post. 

 A vida é trabalho.

Dá trabalho se relacionar com mãe, pai, irmão,  filho, amigo, chefe, colegas de trabalho, vizinhos, sindico, porteiro, professor, aluno, familiares no geral ( esses para mim ainda são um desafio) seja qualquer ser humano que se encontre pela frente. Dá trabalho ouvir as pessoas, abrir mão de certezas, tolerar alguém. 

Dá trabalho cuidar de si, ir ao médico,  ao dentista, ao mercado, fazer sua comida, fazer atividade física, lavar a cabeça ( muito cabelo, muito trabalho), cortar unhas, arrumar sua casa, sua cama, suas gavetas, a geladeira, limpar as coisas,dá trabalho desapegar, não acumular tralhas.

Agora o que dá mais trabalho mesmo é se conhecer. 
Dá trabalho se descobrir, reconhecer que tem um monte de defeito, tem um monte de comportamento padrão de registro errado, aceitar isso, e procurar o caminho pra mudança. Desfazer maus hábitos dá muito trabalho. É preciso estar presente em si, consciente para fazer diferente o que sempre se fez automaticamente.

Dá trabalho amar. 
Dá trabalho ceder.
Dá trabalho escolher.
Dá trabalho ganhar.
Dá trabalho perder.
Dá trabalho pensar.
Dá trabalho perdoar.
Dá trabalho educar.
Dá trabalho acreditar.
Dá trabalho se aceitar.
Dá trabalho se perdoar.

Até fazer sexo dá trabalho. Quem não sai ofegante de uma relação sexual, não sabe o trabalho bom que está perdendo!

A vida é trabalho. Mas quanto eu ganho por isso?
Apenas o oxigênio.Para conseguir dinheiro, tem que arrumar outro trabalho.
Da vida você ganha sorrisos, abraços, amigos, beijos, sabores, cores e flores.

Como se não bastasse a vida ser trabalho, é preciso ter um trabalho. Dá trabalho descobrir qual trabalho me coloca no fluxo da vida e não me dê preguiça,  porque preguiça é medo. 
Escrever dá trabalho, e eu me canso. Mas não tenho preguiça de fazê -lo.Tenho necessidade, então parece que não é trabalho, mas é.

Tem coisas que só entendo quando escrevo.
Tenho medo. Ter medo dá trabalho, esse eu não gosto.Meu medo vem do que escrevo, dá trabalho me ler.Me reconhecer por escrito.

Depois de assimilar todos esses argumentos e entender que a vida é trabalho, adotei 3 lemas que carrego comigo.
1- Respeitar escolhas, reconhecer limites.
2- Devagar e sempre.
3- Um dia de cada vez.

Hoje estou aprendendo a trabalhar sem muito esforço,  aceitar o fluxo da vida, já que minha raiz não está mais tão danificada . Não há controle, tudo tem seu tempo. Lógico que meu trabalho maior é cuidar dela, da minha raiz, para que no tempo certo, eu árvore, dê frutos e assim os sonhos da minha vida se tornem mais possíveis. Leve, serena e mansa, a vida nunca será, não se iluda, porque a vida, é trabalho.